sexta-feira, 21 de julho de 2017

Epitáfio






Recolhi meus pertences
Dois livros velhos
Acho que James Joyce e Oscar Wilde

As coisas mudam de lugar
Mas, nem sempre se transformam
O pêndulo que ia e vinha
Feria-me no monótono transcurso
E continua ferindo-me agora

O que me deixa os olhos turvados
E os pés curvados (ou contorcidos)

E já não domino minhas ações
Perfídias involuntárias
Ou atos sobranceiros

A seta que me conduzia ao cume
Esqueceu-me de dizer que era o fastígio da morte



Desferi contra meu peito o último golpe
Que seria contra o teu...

Caminhei em círculos
Mas não se caminha em círculos
Despenca-se do ar
Mas uma alma chã não se despenca de nada
Dissolve-se na própria finitude
E come do pó da própria ruína

Tarde de mais...

Dos últimos versos que escrevi
Li palavras ininteligíveis
Mas não se lê o ininteligível
Revirei os olhos sobre letras desembestadas





Arrependi-me de tentar, em vão, coroar o ato de quitar-te a vida
E...
Sorri
Sob certa [auto] comiseração desalinhada
Tive pena de mim
Embebido no sangue achei tudo engraçado
Mas era delírio
Ao ver que
Na verdade
A vida que eu, então, arrasara
Meu anjo, minha obsessão
Não era a tua
Que encontrou seu próprio caminho
Era a minha
Que despencou sobre o solo
No crepitar dos espinhos!


 
 - Danillo Macedo - 







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