____________ * ____________
Parte I
Sabe quando já errou o bastante para
Enfim
Entender que foi feito para errar?
Talvez cometesse os mesmos erros com mais intensidade
Para se converter de vez neste monstro
O monstro que, dentro de você, não morre
Mas que, dos olhos tortos do mundo, se esconde
E sorri para o mundo cada vez que sente dor
Não adianta se arrepender
Seria um autoflagelo inútil
Basta retribuir com um sorriso
Pré-fabricado, que seja
A gente morre de dentro para fora
E luta em vão contra o medo do medo
Até aquilo do que temos medo acabar com tudo
Antes disso, termos perdido a vontade de lutar
Ou nos convencido que foi pela falta da nossa vontade
Quando foi falta de amor
Foi a falta da água de um peixe no chão seco
Não quero mais ser o que seria bom para você
Porque você nem sabe quem é você
Sou dono do meu próprio ser
E morrei comigo
O mundo não precisa de nós
Como um dia precisei de você
Em que tomei do veneno da esperança
Um veneno esquizomorfo
Na cava taça de vinho
Parte II
A esperança ébria me trouxe devaneios
Razoáveis, no entanto
Qualquer meio que usamos para sairmos de nós
Pode nos trazer para mais perto do que somos
Desde que não nos percamos
Quanto mais bebia da esperança
Mais desesperança
Pois este é o mágico poder da espera:
Compreender, cada vez mais claramente
Que não existe absolutamente nada a se esperar
E por isso mesmo esperamos
Até o mundo abaixar as portas e nos jogar na sarjeta da
Eternidade
É por isso...
Andamos para a frente para olharmos para trás e vermos
Que tudo quanto deixamos foi vaidade
Foi uma vontade ingênua
Foi uma espera tênue
Angustiante
Porque esperamos sabendo que teremos justo o que não
esperamos
Mas, esperamos…
Droga, esperamos!
Não um mundo perfeito
Apenas dar a hora
E voltarmos para casa sem ter apanhado nada pelo caminho
Senão deixado tudo que um dia acreditamos ter apanhado
Nem sei porque esperamos
Nem sei o que espero disso tudo
Acho que é a esperança de termos, mesmo, uma esperança
Aquela da probabilidade
Aquela que acredita no mundo material das possibilidades
A esperança é coisa de gente viva
Que espera na carne e no espírito
As possibilidades que os valham
Um é o todo, o outro é o muito pouco
O intervalo que há entre os dois é o nada
E esperar é saber que só se espera enquanto a coisa que
espera
Não se esfumaça tanto quanto a coisa esperada
Esperei por você
Para quê?
Para viver?
Não se vive e não se anda sem esperar por algo enquanto se
o procura?
Procurando a gente acha
Mas também se perde e se machuca
E não se acha mais nada
E se esquece pelo que se esperava
Embora, de muitas coisas, eu ainda não me tenha esquecido
Aprendi que o homem é o animal mais inteligente dentre os
outros animais
Capaz de ter esperança por algo que se imagina, se lembra,
se simboliza e se mitifica
Porém, sua inteligência também o fez fugir da realidade
E viver fantasias que o prenderam e o desagregaram do eu
natural
E, esperando encontrar uma razão de ser deste esperar
porfioso
Pus-me a pensar no que seria este animal capaz de esperar
por coisas extenuantes
O homem é, pois, o animal mais inteligente; a ponto, até
mesmo, de tornar-se o único capaz de enganar a si mesmo.
- Danillo Macedo -