Caindo para o abismo
ou caindo do céu
Não importa
É sempre como o brilho
da estrela que morreu
Não posso discernir o
certo do errado
Mas o falso do
verdadeiro
É como a morte do
filho que viveu 30 segundos
É como a ponte levada
pela força das águas
É como queimar o bolo
de aniversário faltando uma hora para a festa começar
É quando a festa acaba
e não tem mais aniversário
É quando amanhece e
tudo o que foi parece não precisar ter sido
É quando tudo deveria
ter sido, mas nada realmente foi
É quando tudo poderia
ter sido um pouco mais para esmaecer-se um pouco menos
Como tudo se esvai,
meu Deus: o café que tomei, a água com que me lavei, o beijo que eu lhe
roubei...
É quando a gente pensa
no que deveria ter dito, mas logo pega no sono e se esquece de tudo o que
aconteceu
É quando a gente se
lembra do que aconteceu e se esquece do que deveria ter dito
Alzheimer ao contrário
é a febre do amor
São espinhos que
cortam a pele
Como o Bem são frases
riscadas nas águas
Como pode, meu Deus,
ser tão difícil de esquecer-se de algo sem importância que se acabou e por isso
mesmo não deveria ser importante, mas que não lho tendo feito inteiramente fica
nesta agonia mnemônica como se importante fosse?
Água esconde o corpo
nu e exposto
A mesma água a cujo
abismo caía
Mas te soergui e me
apaixonei por ti
E fomos um de corpo e
alma
Até que o rio virou
mar
E não mais te vi
A não ser cair de um
céu inesperado
No brilho opala do que
não mais existia
Como podia, pois,
haver de brilhar, não sabia...
As águas refletem-na
durante a noite
Quando desce no álgido
vapor noturno
Cada vez que a água
passa é um pouco de tudo que fica mais longe
Cada vez que anoitece
é um pouco do nada imóvel na face da mesma água que passa
Tudo me lembra você
(O brilho vivo da
estrela que morreu)
Todas as noites eu
acho que alguma estrela vai cair e te trazer de volta
Até que volta a ser
dia e na água só vejo o mesmo rosto abatido
Do céu só cai esta chuva
fininha
Recosto-me no
travesseiro
Abraço o cobertor como
se fosse o teu corpo
Sem saber como este
brilho do que morreu também há de apagar-se um dia
No cerrar peremptório
dos olhos fatigados
- Danillo
Macedo -